11º K - "Deslumbramentos"

                                                                                                     

62ª aula - 28 de Fevereiro de 2008

I

1. Atente no primeiro parágrafo do texto.

1.1. Embora o motorista fosse um ser misterioso, o que mais intrigava o narrador era o próprio carro. Explique porquê.

1.2. Copie do texto os vocábulos que fazem parte do campo lexical de mar.

1.3. Evidencie a ligação feita entre algumas partes do carro e elementos marítimos.

2. A partir do segundo parágrafo, o narrador introduz uma personagem feminina.

2.1. De que forma a própria mulher se integra no “ambiente aquático” criado no primeiro parágrafo?

2.2. “Dir-se-ia que se prestara a servir de modelo, diante de um pintor académico, para um retrato muito convencional…”

2.2.1. Faça o levantamento dos fragmentos textuais que justificam esta observação do narrador.

3. A fórmula com que se inicia o texto – “Noites e noites a fio…” – condiciona a sua construção em termos temporais.

3.1. Identifique o tempo verbal predominante no texto.

3.2. Explique a sua relação com a expressão temporal referida em 3.

4. Nos excertos textuais que se seguem, substitua as palavras sublinhadas por outras com igual valor:

_ “E era tão-só com um gesto negligente desta mão, mas tão-só com a rotação lentíssima do pulso…”

_ “Então, mal eu me sentava, sem um ruído o carro punha-se em marcha”

II

Quem era esta mulher misteriosa? Por que razão teria escolhido o narrador para a acompanhar, noite após noite? Para onde iriam?

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62ª aula - 28 de Fevereiro de 2008



A MULHER MISTERIOSA

Noites e noites a fio, quase de madrugada, desenrolava-se a mesma cena: um grande automóvel preto – um carro americano de antes da guerra, talvez um De Soto dos anos trinta – parava de repente ao pé de mim. O motorista, fardado de negro, mantinha-se muito hirto no seu lugar; eu não chegava sequer a ver-lhe o rosto. Mais me intrigava aliás o próprio carro, que parecia ter estado debaixo de água – ou ter sido fabricado no fundo do mar -, embora não apresentasse, na carroçaria, nenhum vestígio de humidade. Mas o capot faiscava, na sombra, como no dorso de um cetáceo; o flanco fusiforme dos faróis denunciava não sei que secreto comércio com os peixes; e a porta de trás, que vinha agora de entreabrir-se – sem que ninguém lhe houvesse tocado –, evocava irresistivelmente, pelo crebo (1) palpitar em que ficara, o inquietante mistério de uma guelra.

Dentro, na outra extremidade do banco, reclinava-se um vulto de mulher cingido num vestido de lamé. Era um vestido de noite, de modelo já antiquado, que por inteiro lhe ocultava as pernas e os pés: a partir da cintura, todo fosforescia, como a cauda de uma sereia.

Havia, no porte dessa mulher, qualquer coisa de hierático, e ao mesmo tempi qualquer coisa de irónico, como se quisesse mostrar – por uma espécie de jogo que não chegava a tomar a sério – o reverso daquilo que sentia. Dir-se-ia que se prestara a servir de modelo, diante de um pintor académico, para um retrato muito convencional, apenas com o fim de troçar intimamente do pintor e do retrato, de si própria e da pose que adoptara. Entre os dedos da mão esquerda – que vinha, enluvada de preto, descansar-lhe no regaço – apertava as varetas cerradas de um leque de marfim. A mão direita, igualmente mergulhada numa luva preta de canhão alto, firmava-se no assento do banco. E era tão-só com um gesto negligente desta mão, mas tão-só com a rotação lentíssima do pulso, que me saudava e convidava a entrar, que me apontava o lugar a seu lado. Então, mal eu me sentava, sem um ruído o carro punha-se em marcha.

David Mourão-Ferreira, “Nem tudo é história”, in Amantes e Outros Contos

(1) crebo – frequente, amiudado, repetido

(2) hierático – majestoso e rígido; sagrado



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60ª aula - 25 de Fevereiro de 2008


Escolhemos a mesa do terraço, de luzes reflectidas na água profunda e espessa. Os navios, imóveis e enigmáticos, pareciam monstros que tivessem esperado pela noite para vir à superfície. Só os barcos que ligavam as duas margens, de olhos fosforescentes, nos libertavam desta sensação de que a cidade, desprevenida, se deixara sitiar pelo rio.

- Foste esta manhã ao hospital?

- Decerto.

- Muitos doentes?

Clarisse não insistiu. De olhos fitos na vastidão sonolenta das águas, seguindo-lhes, com ar absorto, o estremecimento subterrâneo, que às vezes refluía como uma mancha de óleo, ela estava, no entanto, de pensamentos a léguas dali. Bem lhe percebi a ausência. Estalei com os dedos a chamar o criado.

- Para começar, dois martinis. – E dirigindo-me a Clarisse: - Hoje, este jantar vai ser com todas as regras. Aprovas?

Ela acenou que sim. O lampião rente ao muro do terraço dava-lhe uma tonalidade crua. A beleza surgia assim estranhamente artificial ou mortificada. Mas, pelo meu lado, assaltara-me um desejo imbecil e urgente de boa disposição.

- Queres então que te fale da minha consulta de hoje… Aí vai: observei um homem das Beiras, com o rosto bochechudo da cor do salpicão, e reformado da Câmara. A sua doença era essa, julgo: uma reforma que o obrigava a trazer fundilhos nas calças. Depois, uma algarvia. Padecia de tudo, muito particularmente de uma língua infatigável. Etc. Estás satisfeita? Claro que, de todas as vezes, eu repetia o estribilho: «Não é para esta consulta.» Levo os dias a repetir as mesmas coisas. Estas e outras, como um papagaio.

A mão de Clarisse segurou-me um dos braços. Impedia-me, assim, de dizer mais baboseiras. Eu bem sabia porque ela me falava do hospital, dos doentes. Já outras vezes o fizera, obliquamente, esperando que eu lhe contasse cenas e casos que lhe mordessem os nervos, enquanto se fechava a toda a insinuação para que reatasse os tratamentos. Mas eu estava atento.

Fernando Namora, Domingo à Tarde

  1. Onde e quando tem lugar o encontro referido no texto?
  2. Qual a actividade profissional do narrador. Justifique.
  3. Em que estado de espírito parece encontrar-se Clarisse? Porquê?
  4. Por que razão se sente o interlocutor assaltado por «um desejo imbecil e urgente de boa disposição»?
  5. Que faz ele para concretizar esse desejo?
  6. Atendendo ao breve relato da consulta daquele dia, com que impressão se fica do narrador e do modo como realiza o seu trabalho?
  7. Que razões levavam Clarisse a falar com frequência do hospital e dos doentes?

II

  1. Esclareça o sentido de:

- ela estava, no entanto, de pensamentos a léguas dali

- este jantar vai ser com todas as regras

- uma reforma que o obrigava a trazer fundilhos nas calças

- padecia […] de uma língua infatigável

- cenas e casos que lhe mordessem os nervos.

  1. Redija frases que incluam verbos da família de:

- noite

- doente

- papagaio

- insinuação

III

Relembre, usando diálogo e em cerca de vinte linhas, um encontro especial com um amigo.




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57ª aula - 18 de Fevereiro de 2008

Ouvia-se o vizinho a roer nova dose de tremoços. […] A locomotiva do café chiava, exausta. Pelo mármore do balcão, escorria a espuma que transbordava dos copos de cerveja, rasados por mão afeita.

- Falaste do fim da guerra? – sibilou o pai. – Ainda vem longe, sabes? A tua imaginaçãozinha de trazer-por-casa faz-te acreditar na fábula para imbecis de que o Hitler está derrotado, não? Bem te enganas. Tão certo como eu estar vivo.

- Não, pai! Não se trata disso! Eu disse «quando a guerra acabar», acabe ela quando acabar.

- A guerra? Não acaba tão cedo, rapaz! Isso é história de ceguinhos! Cantam-na pelas ruas, trá-la-ri, trá-la-rá, mas está para dar e durar.

- Mas, pai, eu quero é saber se, quando ela acabar, o pai me autoriza a…

- Sim, sim! Queres então ir lá para fora, não é isso?

- Foi esse teu amigo que te meteu a coisa na cabeça?

- Não, pai. Ele só me trouxe de Lisboa os preços eventuais duma estada neste ou naquele país. Para eu escolher. Trouxe-me também programas e cursos. As estimativas são razoáveis. Pouco mais do que gasto em Coimbra.

- E que irias tu fazer?

- Pensei em ir para uma escola têxtil. Não gosto de Ciências… É tão frio!

- Não gostas de nada! Porque havias de gostar de Ciências? E porque hás-de gostar dessa coisa do Têxtil? Falta-te qualquer coisa lá por dentro, és oco, não gostas de nada.

- Gosto, pai. Acredite que sim. Eu gostaria tanto de ir lá para fora! A indústria têxtil vai ter uma enorme saída. Falei com um tipo do ramo, lá da Covilhã. Entusiasmou-me imenso. Depois da guerra… será um trunfo.

Fernanda Botelho, in A Gata e a Fábula

I

1. Situar no tempo e no espaço o diálogo transcrito. Justificar com o texto.

2. Que plano tem o filho? Que motivos o levaram a conceber tal plano?

3. Qual o estado de espírito do jovem?

4. Como reage o pai, ao ouvi-lo expor esses planos?

5. Que opinião tem o pai acerca do próprio filho?

6. Que tipo de relação entre pai e filho nos deixa o diálogo entrever?


II

Explicar por palavras próprias o sentido de:

1. isso é história de ceguinhos

2. está para dar e durar

3. ir lá para fora

4. É tão frio

5. vai ter uma enorme saída

6. será um trunfo

III

preposições

Completar as frases seguintes, inserindo as preposições adequadas, se necessário contraindo-as com o determinante artigo.

1. Eles emigraram ________ o Brasil ________ em 1961, ali continuando ________ ser agricultores, como ________ sua terra.

2. ________ que motivo é que a irmã ________ Joana não foi hoje ________ a escola?

3. ________ há três anos ________ cá, já trabalhou ________ cinco empresas diferentes, uma ________ quais ________ Marrocos.

IV

substantivo-adjectivo-verbo

Exemplos:

dia – diário/diurno – adiar

estímulo – estimulante – estimular

sorriso – sorridente – sorrir

1. favor _____________ _____________

2. _____________ juvenil _____________

3. _____________ mole _____________

4. _____________ _____________ alarmar

V

Em 15/20 linhas, dar conta das reflexões já feitas sobre o futuro percurso académico.

Eu pensei em ir para…


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